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Os desafios do envelhecimento e do autismo

O envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual (DI) ocorre de maneira precoce em alguns casos, principalmente em pessoas com Síndrome de Down, Síndrome de Stocco e Autismo.

Apesar da escassez de estudos sobre o processo de envelhecimento da pessoa com autismo no Brasil, sabe-se que o envelhecimento dessa população, assim como no cenário da pessoa com DI, é uma realidade cada dia mais presente.

Essa realidade não consta nos dados demográficos brasileiros, mas está presente nos espaços de convivência e em instituições que prestam atendimento especializado para este público. Esse aumento na expectativa de vida de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) torna-se um cenário de celebração da longevidade dessa população tão especial.

No entanto, o processo de envelhecimento da pessoa com TEA foi melhor compreendido e discutido em países da Europa e no Canadá, onde várias pesquisas foram realizadas visando a um melhor entendimento sobre essa temática, envolvendo as especificidades desse envelhecer.

Os dados oriundos desses países nos possibilitaram o levantamento do estado de saúde geral, condições de moradia, inclusão em espaços públicos, fatores de riscos nessa fase da vida e bem-estar.

Entre os fatores de risco presentes no envelhecimento precoce em pessoas com TEA destacam-se: uso de medicamentos prolongados para tratamento de doenças pré-existentes, predisposição da pessoa com TEA para desenvolver comportamentos e condutas de riscos no dia a dia e declínio cognitivo subestimado (não avaliado).

No envelhecimento dessa população, além dos fatores de risco, é comum a permanência das doenças neurológicas e psiquiátricas adquiridas ainda na infância, sobrepondo às habilidades sociais e de comunicação, interesses restritos e comportamentos estereotipados.

Apesar do panorama bem descrito da infância da pessoa com TEA, a velhice dessas pessoas é marcada pela prevalência de comorbidades associadas ao processo de senilidade, sendo estas: transtorno de linguagem, alterações sensoriais, déficits nas funções executivas e atenção, transtornos gastrointestinais, epilepsias, transtorno bipolar e ansiedade. Essas alterações impactam de maneira direta no envelhecimento da pessoa com autismo, requerendo planejamento no atendimento, avaliação e intervenção precoce.

A avaliação precoce dos sinais sugestivos de envelhecimento nessa população, torna-se um dos maiores desafios vivenciados por profissionais que realizam o diagnóstico diferencial. Entendemos que houve muitas conquistas em prol da pessoa com TEA na infância e adolescência. No entanto, percebe-se que a velhice dessa população ainda não foi descortinada.

Portanto, diante das conquistas obtidas nas áreas da inclusão, políticas, defesa e garantia de direitos para crianças e adolescentes com TEA, faz-se necessário um movimento de defensoria e busca de proteção, suporte, mediação e promoção da qualidade de vida da pessoa com TEA que envelhece.

O atendimento especializado com foco na promoção do envelhecimento ativo é recomendado para esses casos, principalmente o desenvolvimento de ações de identificação e prevenção do envelhecimento precoce ainda na fase adulta. Planejar o envelhecimento da pessoa com TEA é uma necessidade primária quando se pensa em longevidade com qualidade de vida.

Entre os desafios vivenciados pelas pessoas com TEA idosos e seus familiares, estão relacionados ao triplo estigma: autismo, deficiência intelectual e envelhecimento. Esse estigma precisa ser amenizado através da elaboração de programas de mediação e suporte especializado para conscientização da sociedade, familiares e cuidadores.

Além do triplo estigma, o idoso com TEA pode manter algumas alterações comportamentais desenvolvidas na infância. Essas alterações podem ser agravadas pelas dificuldades de comunicação e interação social, que por sua vez reforçam o isolamento social, impossibilitando um dos prazeres mais precisos da pessoa idosa: conversar, sentir-se aceito e amado.

O envelhecimento da pessoa com TEA precisa ser desmitificado, comentado e discutido entre a comunidade acadêmica, nas redes de serviços, nos equipamentos públicos e nas instituições de convivência especializadas. Além da desmistificação, algumas estratégias podem ser adotadas visando à promoção do envelhecimento das pessoas com TEA, entre elas: Rede de proteção de saúde e inclusão social. Essa estratégia foi adotada no País de Gales, França e na Dinamarca e revolucionaram a atendimento do idoso com TEA.

Enquanto nos espelhamos em estratégias bem sucedidas em países desenvolvidos, no tempo presente é possível promover o respeito pela dignidade inerente ao processo de envelhecimento, promoção da autonomia individual, incluindo a liberdade de fazer próprias escolhas, a não discriminação, a participação e inclusão plena, respeito pelas diferenças e aceitação destas pessoas como parte da diversidade humana, igualdade de oportunidades e acessibilidade. Só assim, celebraremos a longevidade da pessoa que envelhece com TEA.

Por Cláudia lopes Carvalho

Fonte: institutomongeralaegon.org

Aposentadoria: por que os brasileiros não estão preocupados?

Por que os brasileiros se sentem mais bem preparados para a aposentadoria do que os trabalhadores de outros países? A Pesquisa Aegon de Preparo para a Aposentadoria 2018, lançada recentemente no Brasil pelo Instituto de Longevidade, realizou um estudo de caso para tentar entender a realidade brasileira e responder essa questão, já que, desde que se juntou à Pesquisa, em 2014, o Brasil consistentemente apareceu entre os três maiores pontuadores neste quesito.

Primeiramente é necessário entender o Sistema de Seguridade Social brasileiro. Considerado um dos mais generosos do mundo, ele permite que pessoas se tornam elegíveis para reivindicar um benefício, quer seja com base em anos de contribuição (35 anos para homens e 30 anos para as mulheres, sem idade mínima requerida), quer seja ao alcançar uma certa idade, com um mínimo de 180 meses de contribuição (65 anos de idade para os homens e 60 anos de idade para as mulheres). Além disso, a possibilidade de acumular benefícios vitalícios na sua totalidade, sem qualquer limitação, colabora com tamanha generosidade.

Aproximadamente 8% da população do Brasil é de pessoas com mais de 60 anos, mas as despesas previdenciárias são da ordem de 12% do PIB do país. Em comparação, a Alemanha, a Espanha e a Grécia têm níveis de despesa semelhantes, mas os cidadãos mais velhos representam cerca de 25% das populações totais destes países.

Nilton Molina, presidente do Conselho de Administração do Grupo Mongeral Aegon, destaca que, para a maioria dos trabalhadores no país, “não haverá uma perda financeira significativa na substituição do salário de trabalho pelos benefícios de aposentadoria do governo”.

Os números comprovam a visão de Molina. Atualmente, o sistema de aposentadoria da Seguridade Social paga benefícios individuais num valor máximo mensal de R$ 5,6 mil. O valor médio real de benefícios de aposentadoria (com base na escolha de ‘anos de contribuição’) é de R$ 2 mil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a renda média mensal real dos trabalhadores é R$ 2,2 mil.

Outro fator que muito contribui para a visão otimista dos brasileiros é que o povo ainda se entende como um país jovem e pensa que o futuro é algo muito distante. A população envelheceu e a pirâmide etária, aos poucos, vem alterando seu formato, diminuindo sua base ao passo em que aumenta o seu topo.

Um dos mais respeitados especialistas em previdência do país, o economista Paulo Tafner acrescenta que o Brasil tinha 8,4 trabalhadores ativos para cada pensionista no ano 2000. Até 2030, esta proporção será de 4 trabalhadores ativos para cada pensionista. Em 2060, a previsão é que caia para apenas 2.

O sistema previdenciário público no Brasil é um sistema do tipo “pay-as-you-go”, o que significa que há uma necessidade urgente de reforma e ganhos de produtividade na força de trabalho para que os futuros trabalhadores gerem renda suficiente – e contribuições suficientes – para apoiar futuros aposentados.

No livro Trópicos Utópicos, o economista e filósofo brasileiro Eduardo Giannetti destaca a utopia dos brasileiros como uma característica bem marcante. “Independentemente de viver e ganhar seu sustento em condições precárias, a maioria dos brasileiros se considera feliz e satisfeita com a vida”, comenta Giannetti.

O “jeitinho brasileiro” também apareceu no estudo de caso como um traço cultural bastante marcante na sociedade brasileira. A improvisação para resolver problemas, geralmente de forma bastante criativa pela falta de recursos, leva ao não uso de procedimentos ou técnicas previamente estipuladas. O lado positivo é que essa tendência pode inspirar – e inspira – a criatividade do povo.

Segundo o estudo, a combinação de um generoso sistema de Seguridade Social e a percepção do brasileiro de se identificar como pertencente a um país jovem, com uma atitude confiante, ajudam a explicar por que os trabalhadores se sentem tão otimistas sobre a sua aposentadoria.

Por outro lado, o estudo chama para uma importante reflexão: tamanha criatividade pode traduzir-se na falta de planejamento e no erro comum de entendimento que “tudo vai dar certo no último minuto?”

Fonte: institutomongeralaegon.org