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Ler livros pode deixar sua vida mais feliz e menos estressada

“Tenho que me manter lúcido o tempo todo. Vou pensar em livros que já li e tentar fazer minha pressão baixar.” Esse era o pensamento do professor de português Luiz Cláudio Jubilato, 60 anos, no dia 25 de janeiro de 2012. Foi a data em que sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) – e que teve mais uma comprovação dos benefícios da leitura em sua vida.

Foram algumas horas relembrando clássicos e outras obras. E, segundo ele, esse foi um dos motivos de a pressão arterial ter passado de 23 por 18, considerada alta, para 12 por 8, já dentro de patamares tidos como normais.

Do acidente, teve algumas sequelas. Uma delas, o desvio de rima, termo que chamou sua atenção pela conexão com a literatura: o lado esquerdo de seu rosto ficou paralisado. Mas manteve a capacidade cognitiva e conseguiu retomar suas atividades. Teve ainda sua recuperação abreviada, de acordo com Jubilato, graças ao hábito de ler pelo menos um livro por semana.

O que o professor sabe de forma empírica, a ciência já comprovou: os benefícios da leitura para o cérebro são muitos. “O hábito de ler influencia positivamente em nosso bem-estar, promovendo o exercício cerebral, prevenindo tanto transtornos psicológicos, quanto vários tipos de disfunções”, sinaliza o psicólogo Marcelo Filipecki, especializado em PNL e em acupuntura sistêmica chinesa.

Confira, a seguir, 10 vantagens para desligar a TV e apostar em um bom livro. E, de quebra, aprenda como ler mais.

Felicidade maior

A leitura aumenta a felicidade e ajuda a melhorar os relacionamentos. Essas foram constatações de uma pesquisa feita pelo instituto Kelton Global, a pedido da Amazon, com 27.305 pessoas com mais de 18 anos de 13 países, incluindo o Brasil (EUA, Canadá, México, Alemanha, Reino Unido, Espanha, França, Itália, Austrália, Índia, China e Japão). Dos leitores frequentes (semanais), 71% se sentiam feliz. Entre os esporádicos, esse índice foi de 55%, segundo o levantamento, que foi realizado entre o fim do ano passado e o começo de 2019.

Mais relacionamentos

Ainda segundo a pesquisa encomendada pela Amazon, 65% dos entrevistados afirmam que a leitura gera atração. Tem mais: 41% contaram que debater e conversar sobre livros os fizeram se apaixonar por seus pares. Um em cada três respondentes disse que questionaria o relacionamento se a pessoa não fosse uma leitora. E, quando surge um problema entre o casal, um em cada três busca nos livros a solução, de acordo com o levantamento.

Estresse menor

Ler um livro ou o jornal por apenas seis minutos diminui o estresse em 68%, segundo estudo da Mindlab International, da Universidade de Sussex, no Reino Unido, realizado em 2009. Para chegar a esse resultado, os pesquisadores mediram a frequência cardíaca e a tensão muscular de pessoas em diferentes atividades.

A redução obtida em caminhadas foi de 42%; ouvindo música, de 61%. Ou seja, a leitura é mais eficaz para combater o estresse. Segundo os cientistas, isso acontece porque as pessoas estão totalmente imersas e distraídas com um livro – o que cria o ambiente perfeito para aliviar a tensão.

Vida mais longa

Pesquisadores da Universidade Yale, nos EUA, concluíram que o hábito de ler aumenta a longevidade. Para chegar a esse resultado, foram acompanhadas 3.600 pessoas com mais de 50 anos idade por 12 anos. As que disseram ler diariamente um livro por 30 minutos viveram dois anos a mais do que as que preferiram revistas ou jornais. O estudo também mostrou que quem lia mais de 3,5 horas por semana tinha 23% menos chances de morrer.

Criatividade aprimorada

Na leitura, “ampliamos nosso potencial imaginativo, inclusive intensificando o grau de detalhismo”, afirma Filipecki. Esse aumento de criatividade proporcionado pela leitura foi identificado em um estudo da Universidade de Toronto, no Canadá, no qual 100 pessoas tiveram de escrever contos ou ensaios.

A professora Maja Djikic, responsável pela pesquisa, concluiu que mergulhar em literatura ficcional poderia levar a melhores procedimentos para o processamento de informações, incluindo as relacionadas à criatividade. Segundo ela, devido à natureza ambígua da ficção, os leitores são forçados a aceitar mais a ambiguidade, considerado um fator-chave na criatividade.

Funções cerebrais ampliadas

Deu no periódico científico “Brain Connectivity”: ler um romance melhora a função cerebral em diversos níveis. Essa foi a constatação de um grupo de pesquisadores da Universidade Emory, nos EUA, que colocou voluntários à prova para determinar se a leitura desse gênero literário poderia causar mudanças mensuráveis no cérebro e quanto tempo elas permaneceriam.

Os participantes passaram por ressonância magnética funcional por 19 dias consecutivos. Nos primeiros 5 dias, foram feitas em estado de repouso. Nos 9 dias seguintes, leram 1/9 do livro à noite e faziam o exame na manhã seguinte. Os últimos 5 dias também foram mapeados.

Os cientistas detectaram mudanças em diversas áreas, como nas regiões cerebrais associadas à perspectiva e à compreensão da história. Houve alterações que persistiram no longo prazo, como no córtex somatossensorial, ligado à percepção de sensações em distintas partes do corpo.

Empatia estimulada

Livros de ficção podem aumentar nossa habilidade de sentir empatia. Um estudo da Universidade de Toronto, coordenado pelo professor de psicologia cognitiva Keith Oatley e publicado no periódico científico “Cell”, separou voluntários em dois grupos: a um, entregou uma obra ficcional; a outro, um não ficcional.

Todos foram submetidos a teste psicológico. Segundo o autor, “as pessoas que leem melhoram a compreensão dos outros”. Esse efeito, diz ele, “é especialmente marcado pela ficção literária, que também permite que as pessoas se modifiquem. Esses efeitos se devem, em parte, ao processo de engajamento em histórias, que inclui fazer inferências e se envolver emocionalmente e, em parte, aos conteúdos da ficção, que incluem personagens e circunstâncias complexas que talvez não encontremos na vida cotidiana”.

Promoção da socialização

“A leitura enriquece muito a nossa possibilidade de sociabilidade”, destaca a jornalista Adriana Silva, vice-presidente da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto (SP). Existe a possibilidade de formar conceitos próprios pela leitura e de criar um “mar de conteúdos internos”, diz ela. Essa bagagem de histórias e conhecimentos colabora para a socialização, permitindo que o indivíduo esteja inserido no debate de ideias.

Aumento do bem-estar

“Se eu tirar por base que a literatura me anima, me inspira, distancia meu estado de espírito da depressão, logo ela me traz benefícios imediatos em relação à proposta física”, avalia Adriana, reforçando que essa é uma vivência pessoal.

Mas uma análise da The Reading Agency, uma ONG britânica dedicada à leitura, mostra que Adriana não está só: entre os adultos, o hábito de ler promove prazer, relaxamento e distração, “aumentando a compreensão do eu e das identidades sociais”. Entre os benefícios da leitura listados estão também o conhecimento de outras culturas e o aumento do capital social.

Declínio mental reduzido

Um estudo realizado pelo Centro Médico da Universidade Rush, nos Estados Unidos, e publicado no periódico científico “Neurology” mostrou que quem lê consegue preservar por mais tempo as habilidades mentais. Para chegar a essa constatação, os cientistas analisaram o cérebro de 294 pessoas, após a morte. Quem tinha o hábito de ler, escrever ou jogar ao longo da vida apresentava uma menor probabilidade de desenvolver demência.

Benefícios da leitura: como ler mais

Há algumas técnicas e comportamentos que ajudam a ler mais. Conheça, a seguir, as dicas do professor de português Luiz Cláudio Jubilato, da jornalista e vice-presidente da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto Adriana Silva e do psicólogo Marcelo Filipecki.

  • Comece a ler aos poucos;
  • Entenda a leitura como exercício permanente de ampliação de inteligência, sensibilidade e habilidades;
  • Escolha temas que sejam de seu interesse – e, no começo, não se paute exclusivamente por indicações;
  • Opte, no início, por obras mais curtas;
  • Aumente gradativamente as metas de leitura quantitativa e qualitativamente;
  • Leia em grupos, visando estimulação mútua e possíveis debates;
  • Incentive os filhos e os netos a ler, pois o estímulo pode ser recíproco.

Fonte: institutomongeralaegon.org

Por que ficamos teimosos ao envelhecer?

O aposentado Márcio Quelhas, 80 anos, diz gostar de ajudar os outros à sua maneira. E assim foi quando se ofereceu para ajudar um amigo a arrumar uma porta que raspava no chão ao ser aberta. Como o colega não tinha serra, foi pegar uma elétrica em casa. Na pressa de cortar e na “teimosia” de não deixar o trabalho para um especialista, não viu que havia um prego na porta. “A serra bateu nele e voltou para a minha mão, arrancando uma parte do polegar esquerdo.”

Quelhas lembra que havia quatro pessoas ali. “Nenhuma delas sabia dirigir, então peguei meu próprio carro e corri para o hospital, com uma toalha estancando o sangue e o pedaço do dedo que havia sido arrancado no bolso”, diz. “Pedi para que ligassem para meu filho buscar o carro no hospital depois.”

Você já deve ter ouvido histórias parecidas antes. E se perguntado algo como “mas por que ele não buscou outro tipo de ajuda para ir até o pronto-socorro?” Em meio a essas indagações, é bem possível que tenha pensado que esse é um caso clássico de teimosia dos idosos.

Em relação a esse tema, inicialmente é preciso lembrar teimosia dos idosos não é algo homogêneo. “As diferenças já começam pelo grau de lucidez da pessoa”, explica Andréa Coutinho, gerente operacional do Residencial Vida Nova para Idosos, que fica em São Paulo.

Dessa forma, são diversas as estratégias para lidar com alguém que compreende a realidade que o cerca ou com um indivíduo que apresenta algum grau de confusão mental. No segundo caso, muitas vezes, o idoso passa a experimentar sentimentos e percepções que não condizem com a realidade, e quem está à volta deve entender que nem sempre é recomendado bater de frente com suas convicções fantasiosas.

“Cuido de pacientes com Alzheimer que me perguntam por que seus pais os deixaram ali e pedem para ir para casa”, conta Andréa. “Não adianta falar para eles que seus genitores já morreram há muito tempo, porque eles vão se esquecer dessa informação e fazer as mesmas perguntas no dia seguinte”, orienta. “E, cada vez que lhes for revelado que seus pais já não estão mais vivos, eles enfrentarão um novo luto.”

Em situações como essa, o melhor a fazer é lançar mão da chamada mentira terapêutica: dizer alguma coisa que não condiz com a verdade, mas que trará algum conforto para o idoso. Algo como “seus pais estão trabalhando e te deixaram aqui para passar o dia”. É uma fala que vai mais ao encontro da condição cognitiva da pessoa, que se vê como uma criança por estar em um processo de vivência de antigas memórias.

Estratégias

Postura semelhante de convencimento pode ser adotada em situações de resistência que envolvem idosos teimosos que não apresentem um quadro de perda de cognição e memória. É comum, por exemplo, eles se negarem a tomar determinada medicação. “Podemos falar que seu filho ou seu médico disseram que aquele remédio só lhe faria bem e que ele precisa tomá-lo, ainda que isso não tenha acontecido exatamente assim”, ensina Andréa. “Os mais velhos costumam valorizar as opiniões dos médicos.”

Paciência e psicologia são dois termos-chave na hora de lidar com a obstinação dos que atingiram a maturidade. Gal Rosa, terapeuta ocupacional especializada em gerontologia, lista uma série de razões que podem levar um idoso a um comportamento que envolva teimosia. Depressão, cansaço, irritação e até dificuldades auditivas podem torná-lo resistente a conselhos e opiniões.

Na tentativa de comunicação e entendimento, há quem muitas vezes se esqueça de que os mais velhos reiteram atitudes características do ser humano em qualquer idade. “A opinião dos mais jovens costuma ser mais respeitada, o idoso é visto como um inútil que tem de receber ordens”, afirma Andréa Coutinho. “É necessário perceber que ele também tem vontades. Quando ele se recusa a comer determinado alimento, é tachado de teimoso. Quantas restrições a vários tipos de comida os mais novos também não têm? Só que, nesse caso, a situação é interpretada simplesmente como uma questão de gosto e não de teimosia.”

Protesto

Fazer greve de fome, por sinal, é uma forma que muitos idosos encontram para chamar a atenção ou demonstrar que algo lhes desagrada – como permanecer em um lugar em que não se sintam à vontade. “Às vezes estão cansados de ficar sozinhos”, ressalta Andréa. Segundo ela, é uma maneira de protestar em relação a isso. Quadros de depressão também costumam ocasionar esse tipo de comportamento, então é necessário estar atento à necessidade de medicação para essa doença.

Ouvir o mais velho. Saber o que tem a dizer e respeitar sua opinião. “Negociar” com ele lhe dando atenção e carinho, para que ele se sinta acolhido e compreenda a importância de tomar um remédio ou mesmo usar uma fralda geriátrica. Pensar que é o conforto dele que está em jogo. Ter o bom senso de perceber que é legítimo deixá-lo faltar a uma sessão de fisioterapia – quem nunca deixou de ir a uma aula mesmo sabendo que ela era importante? Evitar discutir com ele quando achar que está sendo teimoso. Afinal, todos nós perdemos a paciência às vezes; todos nós somos teimosos em alguma medida. Ou queremos chamar a atenção. Ou nos negamos a tomar um comprimido com medo dos efeitos colaterais. Ou preferimos pizza a sopa no jantar. Diante das dicas das especialistas, fica o aprendizado: também precisamos flexibilizar o nosso conceito de teimosia.

Fonte: institutomongeralaegon.org