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Delirium ou demência: especialistas ensinam como distinguir

Em um primeiro momento, a pessoa diz algo coerente e de pleno acordo com a realidade. Cinco minutos depois, não sabe mais exatamente onde está – se em casa, no hospital ou mesmo em outra cidade. Mais alguns minutos e faz um comentário de quem parece ciente do que se passa ao redor. Em se tratando de alguém mais velho, caberia a pergunta de quem observa o quadro: seria um caso de manifestação da doença de Alzheimer?

Para responder a essa pergunta, adotemos de início uma resposta bastante cuidadosa: é possível que não seja. Isso porque, de acordo com a descrição do parágrafo anterior, o idoso em questão parece estar em uma condição de confusão mental, alternando percepções realistas e outras não factuais.

Pois esse comportamento é característico de uma síndrome muitas vezes confundida com o Alzheimer: o delirium. “Ele é caracterizado por uma oscilação de atenção”, afirma Daniel Campi de Andrade, neurologista do Hospital Sírio-Libanês. “Nessa situação, o paciente interpreta de forma distorcida fragmentos da realidade.”

Assim, entre idas e vindas da percepção, a pessoa tangencia o que é verdadeiro, mas logo entra em uma linha de raciocínio fantasiosa. “Alguém que esteja em um leito de hospital pode repentinamente achar que o cateter do soro é um fio que lhe dá choque, isso por causa da picada da conexão na veia, ou que é uma cobra que veio mordê-lo”, exemplifica Andrade.

Segundo o especialista, é, de certa maneira, um comportamento semelhante ao de quem bebeu além da conta e alterna falas lúcidas com comentários sem nexo.

Diagnóstico do delirium

Mas, afinal, como diferenciar essa condição do surgimento do Alzheimer? Antes de mais nada, é preciso salientar que quem dará um diagnóstico preciso é o neurologista ou o geriatra. Porém, é possível adiantar alguns sinais que diferenciam uma patologia da outra.

A marca mais característica do delirium é mesmo a flutuação de pensamento, causada por uma grande dificuldade de atenção. E provoca, inclusive, alucinações, como a visão de insetos e mesmo de pessoas.

Essa síndrome pode surgir devido a uma série de fatores. “Costuma estar associada a um estresse biológico”, afirma Andrade. É o caso de uma infecção grave, por exemplo. Ou à administração de um medicamento que a pessoa não tomava antes e que passa a interagir com outros de que ele faz uso.

Também pode ser ocasionada por uma dor não tratada. Ou por variações nos níveis de glicose e de nutrientes como sódio e potássio. E até pela baixa luminosidade – como quando o paciente fica restrito a um quarto muito escuro – ou por noites mal dormidas.

O delirium é mais verificado em indivíduos na faixa dos 70 anos ou mais de idade. “Ele aparece muito quando o idoso está internado”, diz Sonia Bruck, neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

“Isso porque, nessa situação, em geral a pessoa recebe muitas doses de medicamentos, sua rotina é alterada, idem para a alimentação, e ela se movimenta pouco”, explica.

Tudo isso a deixa mais fragilizada e propensa a episódios de delirium. Quem fica acamado em casa também tem mais chances de sofrer com ele. “É comum em pacientes com fratura de fêmur”, afirma.

Pronto-socorro

Diferentemente do Alzheimer, que possui um tratamento próprio e focado na doença em si, o delirium pede providências que erradiquem sua causa.

Assim, Sonia alerta para a necessidade de levar a pessoa ao pronto-socorro quando ela apresenta sinais do distúrbio. “Não dá para esperar pela consulta mensal no geriatra”, reforça. “Se o delirium estiver sendo provocado por uma infecção, ela deve ser combatida o quanto antes.”

Outra de suas características é a temporalidade. “O delirium dura entre horas e dias”, dimensiona a especialista. “O Alzheimer se estabelece mais lentamente, não da noite para o dia. É caracterizado por lapsos de memória que se acentuam com o tempo, em uma condição mais permanente que não tem a ver só com confusão mental passageira e dificuldade de atenção.”

Mas, para complicar um pouco essa separação entre um e outro, o delirium também pode aparecer como sintoma de um princípio de Alzheimer. Ou ainda, o paciente pode não se recuperar totalmente da confusão mental temporária, e sua cognição ficar prejudicada permanentemente. “Ocorre quando o cérebro já estava em um limite e, assim, a pessoa não volta mais a ser como era”, afirma a neurologista.

Em suma: uma investigação do quadro por parte de especialistas é fundamental – seja para eliminar o mal que provoca um desarranjo mental provisório, seja para encaminhar um tratamento adequado para uma doença degenerativa de longo prazo.

Fonte: institutomongeralaegon.org

Dormir pouco pode causar danos à saúde de idosos, confirma estudo

Deus ajuda quem cedo madruga. Você provavelmente já ouviu esse ditado algumas vezes. Outro que você também provavelmente já deve ter escutado é que “Deus protege os idosos e as crianças”. Se juntarmos as duas, poderemos até desenvolver um novo sofisma: Se Deus ajuda a quem cedo madruga e se Ele protege os idosos, logo, quanto mais idoso você for, mais cedo você acordará.

Brincadeiras à parte, o fato de que as pessoas com mais idade passam menos horas dormindo é uma realidade que todos nós conhecemos.

Intrigados com isso, um grupo de cientistas americanos resolveu analisar diversos estudos sobre o assunto e concluiu que, ao envelhecermos, perdemos gradualmente a capacidade de ter um sono profundo, contínuo e restaurador. Até aí, nenhuma novidade.

O problema está na segunda parte do novo estudo, que traz as consequências dessas horas a menos de sono. Publicado em abril de 2017 na revista Neuron, o texto afirma que não é apenas o sono que muda com o envelhecimento, mas o processo de envelhecimento também muda de acordo com o sono de uma pessoa. Como resultado teremos o surgimento de problemas físicos e mentais que aceleram ainda mais o envelhecimento, como um círculo vicioso.

Diretor do Laboratório de Sono e Neuroimagem da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo, Matthew Walker afirma que um dos principais problemas ligados ao envelhecimento e agravados pela perda do sono é a demência.

Segundo o diretor, cada uma das principais doenças que estão causando mortes nos países desenvolvidos – como diabetes, obesidade, Alzheimer e câncer -, tem uma forte relação causal com a falta de sono. E que, à medida que ficamos mais velhos, a probabilidade de todas essas doenças aumentam consideravelmente.

“Às vezes, o paciente necessita de uma quantidade menor de sono para descansar e acorda bem. Essa quantidade é individual, subjetiva”

“Insônia é uma queixa muito comum e fica mais frequente ainda entre os pacientes idosos”, relata a neurologista Thaiz Fernandes, do Hospital Estadual Getulio Vargas. Ela explica que é necessário entender que a arquitetura do sono muda com o tempo, o que é confirmado nos exames de Polissonografia Noturna. “As fases de sono mais profundo, que são as fases 3 e 4, têm uma duração menor no idoso e também são mais comuns os microdespertares”, comenta a especialista.

Porém, mais que a quantidade de horas, é a qualidade desse sono que importa, ressalta Thaiz. “Às vezes, o paciente necessita de uma quantidade menor de sono para descansar e acorda bem. Essa quantidade é individual, subjetiva”, pontua.

Walker afirma que a perda do sono entre os idosos ocorre, não por uma menor necessidade de descanso, mas por uma lenta degradação dos neurônios e circuitos localizados nas áreas que regulam o sono, o que leva a um tempo cada vez menor nos estágios do chamado sono não REM.

Os estágios do sono

O sono é um estado transitório e reversível, que se alterna com a vigília (estado desperto). É dividido em dois estados distintos: o sono não REM, mais lento, e o sono REM, com atividade cerebral mais rápida (a sigla REM, em inglês, significa movimentos rápidos dos olhos).

Normalmente, o sono não REM acontece na primeira parte da noite, enquanto o REM é predominante na segunda parte. Contudo, os dois estados se alternam ciclicamente ao longo da noite, repetindo-se a cada 70 a 110 minutos, com 4 a 6 ciclos por noite. A distribuição desses estados pode ser alterada por fatores como idade, ritmo circadiano, temperatura ambiente, ingestão de drogas ou por determinadas doenças.

Tratamentos possíveis

Thaiz explica que existem dois tipos de tratamentos indicados: os farmacológicos e os não farmacológicos. “Primeiramente, é necessária uma avaliação médica para saber se a insônia é primária (isolada) ou secundária (clínica ou psiquiátrica). Feito isso, podemos definir se será um tratamento farmacológico, em que fazemos uso de medicamentos para melhorar a qualidade do sono, ou não farmacológicos, que consistirá em uma mudança de comportamento e algumas medidas de orientação”, destaca.

Veja abaixo algumas dicas para melhorar a qualidade do seu sono:

  • Ter horários regulares para dormir e despertar;
  • Ir para a cama somente na hora dormir;
  • Ter um ambiente de dormir adequado: limpo, escuro, sem ruídos e confortável;
  • Não fazer uso de álcool ou café, determinados chás e refrigerantes próximo ao horário de dormir;
  • Não fazer uso de medicamentos para dormir sem orientação médica;
  • Evitar pequenos cochilos ao longo do dia;
  • Jantar moderadamente em horário regular e adequado;
  • Não levar problemas para a cama;
  • Realizar atividades repousantes e relaxantes preparatórias para o sono.

Cientistas brasileiros realizam pesquisa semelhante

Em 2014, uma equipe de cientistas do Instituto do Sono, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também desenvolveu um estudo sobre o tema, chegando a conclusões semelhantes. Publicado no mesmo ano na revista Sleep Medicine, o estudo reuniu mais de mil pessoas moradoras da cidade de São Paulo.

Professor de Biologia e Medicina do Sono na Unifesp e um dos autores do estudo, o geriatra Ronaldo Piovezan explica que o estágio mais profundo do sono não REM é fundamental para a recuperação corporal por ser onde ocorre a liberação de alguns hormônios. Um deles é o do crescimento, muito importante para a regulação do funcionamento muscular. A perda do sono, argumenta o especialista, pode então estar ligada à perda de massa muscular na velhice, o que pode levar à dificuldade de locomoção e aumentar o risco de quedas.

Thaiz lembra que alguns estudos afirmam que a prática de atividades físicas ajudam na qualidade do sono. Porém, praticar exercícios à noite, perto do horário de dormir, pode prejudicar a qualidade do sono.

Fonte: institutomongeralaegon.org

Estudo revela 9 formas para evitar a demência

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Mudanças no estilo de vida podem ajudar a evitar um terço dos casos de demência no mundo

Hoje, no mundo, 47 milhões de pessoas têm demência. Em 2030, serão 66 milhões. Mas e se houvessem atitudes que pudessem reduzir o número de casos? Elas existem – e são parte de um estudo que envolveu pesquisadores de sete países, publicado na revista científica “Lancet”.

Segundo os autores, que compõem a Comissão de Prevenção e Assistência à Demência Lancet, “a demência é o maior desafio global para a saúde e os cuidados sociais no século 21”. E mudanças no estilo de vida podem ajudar a evitar cerca de um terço dos casos.

A lista inclui nove fatores – parar de fumar, controlar diabetes, tratar a hipertensão, evitar a obesidade, buscar tratamento para depressão, corrigir a perda auditiva, fazer exercícios físicos, ter visa social saudável e investir em educação até os 18 anos de idade. À exceção do último – e mesmo assim com ressalvas, já que estímulos cognitivos são recomendados em qualquer fase da vida –, todos podem ser alterados.

“Sempre é mais fácil prevenir, evitar doenças e hábitos nocivos do que tratar e mudar. Mas isso não significa que um adulto não possa modificar suas práticas para melhorar a saúde e evitar diversas doenças, inclusive as demências”, destaca Sizenando da Silva Campos Junior, neurologista e neurocirurgião, diretor da Central Nacional Unimed.

A demência, diz ele, tem tratamentos farmacológicos e não farmacológicos. “Os não farmacológicos são atividades de estímulo cognitivo, social e físico: palavras cruzadas, sudoku, jogos, convívio com familiares e amigos, gravação de vídeos com lembretes de nomes de pessoas queridas e de compromissos, prática regular de exercícios.”

Para quem convive com um paciente com demência, Campos Junior indica tratá-lo com paciência, carinho, consideração e respeito. “Mostrar a ele como é importante e querido, além de se informar sobre maneiras de postergar os efeitos da doença, ajuda muito.”

Confira, a seguir, os nove fatores listados pela comissão. E o que fazer para alterá-los.

Tratar a hipertensão

Populações com altas taxas de hipertensão desenvolvem demência mais cedo. A causa: a doença provoca uma neuropatologia que reduz a reserva cognitiva.

Como fazer: busque orientação médica.

Evitar a obesidade

A obesidade está ligada à síndrome pré-diabetes e metabólica. Acredita-se que anomalias da insulina causem uma diminuição da produção da substância no cérebro, provocando aumento da inflamação e altas concentrações de glicose no sangue, mecanismos que prejudicam a cognição.

Como fazer: adote uma alimentação saudável. Um nutricionista pode auxiliar na escolha do cardápio e nos ingredientes que não podem faltar à mesa.

Você sabia que o IMC ideal muda após os 60 anos? Clique aqui e calcule o seu

Corrigir a perda auditiva

O estudo mostra que 32% das pessoas com mais de 55 anos de idade têm algum problema auditivo. Segundo os autores, esse é um problema da meia-idade e evidências sugerem que ele continue a aumentar o risco de demência na velhice.

Como fazer: começou a notar que tem pedido para as pessoas repetirem o que disseram? Procure um otorrinolaringologista, que buscará a causa.

Parar de fumar

Essa é manjada, mas bem importante: o cigarro contém neurotoxinas, que aumentam o risco de demência.

Como fazer: aplicativos podem ser úteis (clique aqui para conhecer 5 deles). Um médico pode orientar no abandono do vício, inclusive à base de remédios.

Tratar a depressão

Há uma ligação entre o número de episódios depressivos e o risco de demência. “É biologicamente plausível que a depressão aumente o risco de demência porque afeta os hormônios do estresse, os fatores de crescimento neuronal e o volume do hipocampo”, relatam os autores.

Como fazer: clique aqui e leia essa reportagem, que trata dos sintomas que podem aparecer em pessoas mais velhas. Na dúvida, busque ajuda com um psiquiatra.

Fazer exercícios físicos

Adultos mais velhos que praticam alguma atividade têm mais chances de manter a capacidade cognitiva. E quanto mais, melhor. Não só isso: os autores destacam que quem se exercita tem aumento do equilíbrio e redução no número de quedas, além de melhora do humor e diminuição da mortalidade.

Como fazer: para sair do sedentarismo, vale começar com caminhadas. Não sabe qual atividade seguir? Um educador físico pode orientar.

Manter contatos sociais saudáveis

Isolamento é fator de risco para demência e mais – aumenta as chances de hipertensão, doenças cardíacas e depressão. Além disso, resulta em inatividade cognitiva, “que está relacionada a declínio cognitivo mais rápido e mau humor”. “Por si sós, todos esses são fatores de demência, o que evidencia a importância de considerar o contato social de pessoas mais velhas e não apenas sua saúde física e mental”, sugerem os autores.

Como fazer: voluntariado, aulas presenciais, visita a amigos e viagens são formas de fazer amizades e buscar novos contatos sociais.

Controlar o diabetes

A insulina é um hormônio que regula a quantidade de açúcar no sangue e protege os neurônios. O diabetes provoca resistência a ela, causando uma resposta inflamatória. Estudo mostra que, dessa forma, os vasos perdem flexibilidade e ficam mais maleáveis, prejudicando a cognição.

Como fazer: o controle da alimentação é indispensável. Consultas regulares ao médico ajudam a manter a doença sob controle.

Investir em educação

Até os 18 anos, dar sequência aos estudos formais é uma forma de evitar a demência. Ao concluir o ensino médio – e permanecer estudando –, a pessoa aumenta a reserva cognitiva, fortalecendo as redes cerebrais. Isso pode reduzir os danos causados pela doença, afirmam os pesquisadores.

Como fazer: Campos Junior recomenda atividades de estímulo cognitivo. Valem palavras cruzadas, sudoku, jogos. Por que não aprender um novo idioma ou aventurar-se por uma atividade diferente?

Fonte: Instituto de Longevidade Mongeral Aegon